As nuvens são brinquedos que fazem monstros, que fazem moças, desejosas de desabarem. E eu tenho enorme medo de ve-las cair sobre minha cabeça tonta... Algumas já despencaram passadas vezes e para o meu espanto, sou mais dura que elas. Elas viram água. Mas eu não quero me molhar. O frio nos encolhe e nos retem em casa e agora eu estava de saída.
Sabe que as vezes até encontro alguma graça na travessura desses flocos regantes barulhentos, que gritam como pais enjuriados, na sua voz grossa de trovão... E essa "surra" que o vento me dá, me atravessa intensamente sem causar qualquer ferida, me deixa graciosamente despenteada, desconcertada e impaciente. E então a criança que ainda sou desenha um sol em papel na tentativa, dele curioso, pôr a cara em minha janela para bisbilhotar o seu retrato.
Mas não... Eu não tenho raiva dos meus algodões cinzentos generosos. Eles estão devolvendo ao mundo as águas que o sol levou daqui para se refrescar ao longe, achando que ninguém iria perceber. Mas o astro é discreto, fez da água vapor invisível, e os algodões são arianos impetuosos que sem nenhuma cerimônias as arremassam de volta a nós. Na verdade é fácil ser luz, difícil é ser trevas, mas ambas são amor de Deus.
No fim das contas eu acho que as palavras falam mais no que calam e os fatos naquilo que escondem. as nuvens são meus fatos de agora. E o que pode ser maior que o céu?????????